A chegada da Páscoa costuma vir acompanhada de chocolates em abundância. Para pessoas com diabetes, esse momento pode gerar dúvidas e até receios. Afinal, como aproveitar a data sem exageros e sem comprometer o controle glicêmico? A resposta, segundo a nutricionista Tarcila Campos, especialista em educação em diabetes, está no equilíbrio, no planejamento e nas escolhas inteligentes.
Chocolate com moderação é possível na Páscoa
A primeira dica é clara: evite comer tudo de uma vez. “O grande segredo está em adequar as quantidades e porções“, destaca Tarcila. A recomendação da especialista é simples: quebre o ovo de Páscoa em pedaços menores, prefira versões pequenas e separe porções controladas de 15 a 20 gramas, o equivalente à palma da mão.
Segundo ela, o ideal é consumir o chocolate como sobremesa. Isso porque, quando ingerido com o estômago vazio, especialmente em momentos de fome, o controle de porções se torna mais difícil.
Comer chocolate junto com as refeições faz diferença
Tarcila ressalta que incluir o chocolate logo após uma refeição equilibrada ajuda a reduzir seu impacto na glicemia.
“Quando a gente prepara uma refeição e vai comer o chocolate depois, a salada, que é fonte de fibras, e uma proteína, como peixe ou bacalhau, já vão ajudar um pouco nesse impacto”, afirma.
As fibras e as proteínas presentes no prato principal retardam a absorção do açúcar e ajudam a manter os níveis de glicose mais estáveis.
E o chocolate diet? Nem sempre é a melhor escolha
É comum pensar que o chocolate diet é automaticamente a opção ideal para quem tem diabetes. No entanto, a nutricionista faz um alerta: “Mesmo o chocolate feito sem adição de sacarose tem carboidrato vindo de outras fontes, como o leite e a massa de cacau”. Além disso, ela aponta outro problema: “Muitas vezes o chocolate diet acaba tendo uma influência pior porque tem uma quantidade maior de gordura”.
Dessa forma, vale observar o rótulo nutricional e escolher produtos com menor teor de carboidrato e gordura, evitando a falsa sensação de segurança ao optar por versões diet.
Chocolate amargo: uma boa escolha, mas com limites
O chocolate amargo, com alto teor de cacau, é uma alternativa mais saudável. “Hoje cada vez mais a gente estimula os chocolates que são mais concentrados de cacau por várias questões”, explica Tarcila. Esses chocolates possuem compostos funcionais, como os flavonoides, que atuam como antioxidantes e trazem benefícios à saúde cardiovascular.
“Quando a gente escolhe chocolates com concentração acima de 70% de cacau, a gente acaba tendo os flavonoides, que têm correlação com saúde do coração, inflamação do corpo”, afirma.
Outra vantagem é que esse tipo de chocolate geralmente tem menos carboidrato por porção. “E muitas pessoas falam que o chocolate amargo dá até uma saciedade maior.” Mesmo assim, a nutricionista lembra: “Não é porque ele é amargo que dá pra comer em grandes quantidades. A porção recomendada continua sendo a mesma”.
Os cuidados com o prato principal da Páscoa
Além do chocolate, é importante considerar o prato típico da data: o peixe. Tarcila aponta que, quando preparado de maneira saudável, como assado ou grelhado, o peixe é uma excelente fonte de proteína e gordura boa.
“A gordura que tem na carne do peixe é uma gordura boa, é fonte de ômegas, que também trazem saúde cardiovascular.”
No entanto, ela alerta para evitar frituras e molhos gordurosos. “Sempre acompanhar com legumes, verduras, opções mais leves. Se já vai fazer com algum tipo de batata, capricha mais na salada”, sugere. Assim, é possível gerenciar a quantidade de carboidratos da refeição e manter o equilíbrio nutricional.
E como ficam os medicamentos?
As orientações variam conforme o tipo de tratamento utilizado pela pessoa com diabetes. Quem faz uso de medicação oral deve ser ainda mais cuidadoso.
“Muitas vezes, o exagero na quantidade pode causar uma hiperglicemia porque eu não vou fazer um ajuste da medicação oral ou da injetável que não seja a insulina para comer mais”, explica Tarcila.
Já quem faz uso de insulina para cobrir as refeições, como no caso de quem usa sistema de infusão contínua ou canetas de insulina ultra-rápida, tem mais flexibilidade. As pessoas conseguem fazer a contagem de carboidrato e ajustar a quantidade de insulina para o que vai comer. Então são propostas diferentes, segundo a profissional.
Crianças também podem aproveitar a Páscoa
Tarcila reforça que as crianças com diabetes também podem saborear chocolate, desde que com moderação. “É importante para as crianças já ter uma educação nutricional de porcionar, combinar os dias em que vai colocar esse chocolate junto da refeição.” E, claro, ajustar a insulina sempre que for necessário.
Por fim, a nutricionista destaca que é possível curtir a Páscoa com diabetes. O segredo está no equilíbrio, nas boas escolhas e no planejamento das refeições.
“A gente é cercado ali no dia a dia por alimentos fonte de chocolate, mas dá para aproveitar com planejamento, escolhendo o melhor horário, adaptando a medicação sempre que for necessário e conseguir curtir uma feliz Páscoa para todo mundo.”
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